Para
isso fomos feitos:
Para
lembrar e ser lembrados
Para
chorar e fazer chorar
Para
enterrar os nossos mortos —
Por
isso temos braços longos para os adeuses
(...)
Vinicius
de Moraes – Poema de Natal
Quando criança, muito cedo tive que aprender a dizer adeus a
meu avô. Até então, a morte fazia parte
do meu mundo apenas como um conceito abstrato, sem nenhum fundamento na
realidade. Acho que foi nessa época que me dei conta de que a parte mais triste
da morte é a ausência. É o vazio deixado por aquele que se vai. Esse vazio
nunca é preenchido: por mais que os anos passem e outras pessoas entrem nas
nossas vidas, aquela ausência vai continuar ali. Vai nos acompanhar e fazer
parte de quem somos.
Conforme fui crescendo, percebi que os adeuses não são
exclusividades da morte. A própria vida se encarrega de nos tirar pessoas que
pensávamos que iam nos acompanhar para sempre. Assim foi quando o meu melhor
amigo de infância mudou com a família para outra cidade. Ou quando eu saí da
minha primeira escola, deixando para trás bons amigos, apesar das promessas de
que não perderíamos contato.
A nossa vida é uma sucessão de adeuses. Alguns não são
sentidos, outros parecem que levam um pedaço de nós consigo. Como um grande
quebra cabeça que vai perdendo as peças a cada despedida. Algumas pessoas
ocupam um espaço enorme no nosso quebra cabeça e muitas vezes só nos damos
conta depois que a peça já foi perdida. E não adianta colocar outra peça no
lugar, pois cada peça do quebra cabeça tem um encaixe único. Como resultado, a
cada adeus ficamos mais incompletos.
Depois de sentir e sofrer vários adeuses, eu finalmente
aceitei a despedida como uma constante da vida. Ao mesmo tempo, percebi que o
grande desafio é manter aqueles que importam por perto. Esse é o segredo:
cuidar daqueles a quem não queremos dar adeus. No entanto, não tem como fugir,
algumas pessoas simplesmente vão embora.
manter por perto na memória, nos objetos e no coração.
ResponderExcluirCuidar daqueles a quem não queremos dar adeus 😡👋👫
ResponderExcluir