terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sobre as Escolhas







Não há Destino. Não há nenhum caminho predeterminado para onde nossa vida seja conduzida, inexoravelmente. São nossas ações, nossos desígnios, nossos sucessos e fracassos que determinam o caminho que nossa vida vai tomar.
No entanto, à medida que olhamos o nosso passado, temos a tentação de enxergá-lo como uma sucessão linear de acontecimentos. Como se tudo contribuísse para que nossa vida tivesse acontecido exatamente da maneira que foi. Não enxergamos os desvios, as dúvidas, as vacilações que permearam cada uma de nossas escolhas.
A vida não é uma estrada em linha reta, ela é um labirinto. São nossas escolhas que nos guiam a cada encruzilhada. Isso faz com que cada decisão que tomamos adquira um peso assustador: são essas decisões que moldarão o nosso futuro, para o bem ou para o mal.
Paradoxalmente, a negação do Destino reveste a vida de leveza. Sem nenhuma força para determinar a sua trajetória, o homem se torna livre para ser o que quiser. Da mesma maneira que escolhemos ir por um caminho, podemos escolher voltar. Nada nos prende, exceto o medo de mudar.
Diante dessas reflexões, podemos ter duas atitudes diante da vida: ou tomamos as rédeas da nossa existência e construímos o nosso futuro, sem temer as dúvidas e as mudanças. Ou nos deixamos levar pela correnteza da vida e assistimos o passar do tempo de maneira passiva, deixando com que outras pessoas decidam por nós. No final, tudo é uma questão de escolha.

terça-feira, 12 de março de 2013

Aquilo que dá no coração


“Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.”
(Fernando Pessoa)


Vivemos, todos, atormentados de sentidos. Viver, basicamente, é sentir. Estamos sempre experimentando as mais variadas e intensas sensações. No entanto, não é fácil lidar com esses sentimentos; conviver com eles muitas vezes é doloroso, impreciso, confuso. Temos medo de encará-los, de nos entregarmos a eles.
Por isso, talvez, constantemente tratamos sentimentos (nossos e alheios) como coisas que podem ser rotuladas, medidas, classificadas e até comparadas. Tentamos domesticar o que sentimos atribuindo nomes, conceituando. Falamos de ‘Amor’ como se essa palavra carregasse em si um significado universal, como se existisse uma relação necessária e natural entre a palavra e o sentimento.
Esquecemos que sentir é subjetivo, que cada pessoa vivencia e experimenta os sentimentos de uma maneira diversa, pessoal. Nossas experiências, nossas cicatrizes, nossos medos, mágoas e sonhos interferem na maneira que sentimos. Ninguém ama da mesma forma. Não existe um “modelo de amor universal” que possa servir de base para classificarmos o que sentimos. Na falta desse modelo, tendemos a usar o nosso modo de sentir como referência. Procuramos, no outro, encontrar aproximações, semelhanças que satisfaçam nossa expectativa. Dizemos um “Eu te amo” na esperança de ouvir um “Eu também”.
O problema é quando essas semelhanças não aparecem. Quando o modo de sentir dos outros não corresponde ao nosso ideal, à nossa “cartilha”. Somos tentados a negar esse sentimento, a taxá-lo de “Não-Sentimento”. Daí surge expressões como “falso amor” que sempre aparece em oposição ao “amor verdadeiro” que, evidentemente, seria o nosso. Mas, afinal, o que é o amor?
O título desse texto faz referência a uma música de Lenine¹. Nela, o cantor pernambucano fala dos “sintomas” do que costumamos chamar de amor. Descreve as supostas sensações de quem está apaixonado. No entanto, em nenhum trecho da música Lenine atribui um nome a esse sentimento. Não há, na letra, nenhuma menção direta ao ‘Amor’ ou a ‘Paixão’, ele canta simplesmente “Aquilo”. Lenine, em um momento de genialidade, opera uma desnaturalização dos sentimentos. Sem rotular, ele amplia os significados, as possibilidades. Nessa música, ele nos ensina que palavras não podem aprisionar sentimentos.


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¹ "Aquilo que dá no coração": http://letras.mus.br/lenine/1685719/




sábado, 12 de janeiro de 2013

Do Facebook e outros demônios





Já se disse que a vida é uma peça de teatro. Não poderia pensar em definição mais acertada. Somos todos atores, mascarados, encenando a tragédia que é a nossa existência.
Hoje, porém, percebo que essa ideia tem sido elevada a outro nível. Estendemos o palco das nossas vidas às redes sociais. Representar on line se tornou mais importante do que atuar no mundo.
Virtualmente, assumimos os mais variados papéis. Criamos e recriamos nossas personagens com a mesma velocidade que fazemos um download. Assim, o Facebook e outras redes sociais ocupam o lugar central da estetização da nossa existência. Nosso perfil virtual substitui nossa identidade ao mesmo tempo em que parecer “legal” na internet é mais importante do que ser “legal” na vida. No entanto, qual a razão desse fascínio? O que fez com que as redes sociais ocupassem essa centralidade na vida do indivíduo?
Platéia. Esse é o canto da sereia que nos atrai às redes sociais. Nelas, encontramos espectadores para nossas vidas. Pessoas para acompanhar todos os atos da nossa peça.
Temos a necessidade da platéia. Tudo que fazemos tem que ser mostrado, divulgado, postado, publicado. Cada pequena atividade, corriqueira, ordinária, se torna pública. Afinal, “se não colocar no Facebook, não aconteceu”.
De onde vem essa necessidade? Talvez, ela seja uma tentativa de superar o isolamento do indivíduo “pós-moderno”. Um placebo para nossa solidão. Um simulacro de relação humana...
O lado trágico dessa peça é que quando as cortinas baixam e a platéia deixa o teatro, o ator está sozinho no camarim. Então ele tira a máscara e olha para o espelho. Ele esboça um sorriso, mas a imagem refletida no espelho não sorri de volta.