terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A valsa dos adeuses

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
(...)
Vinicius de Moraes – Poema de Natal


Quando criança, muito cedo tive que aprender a dizer adeus a meu avô.  Até então, a morte fazia parte do meu mundo apenas como um conceito abstrato, sem nenhum fundamento na realidade. Acho que foi nessa época que me dei conta de que a parte mais triste da morte é a ausência. É o vazio deixado por aquele que se vai. Esse vazio nunca é preenchido: por mais que os anos passem e outras pessoas entrem nas nossas vidas, aquela ausência vai continuar ali. Vai nos acompanhar e fazer parte de quem somos.
Conforme fui crescendo, percebi que os adeuses não são exclusividades da morte. A própria vida se encarrega de nos tirar pessoas que pensávamos que iam nos acompanhar para sempre. Assim foi quando o meu melhor amigo de infância mudou com a família para outra cidade. Ou quando eu saí da minha primeira escola, deixando para trás bons amigos, apesar das promessas de que não perderíamos contato.
A nossa vida é uma sucessão de adeuses. Alguns não são sentidos, outros parecem que levam um pedaço de nós consigo. Como um grande quebra cabeça que vai perdendo as peças a cada despedida. Algumas pessoas ocupam um espaço enorme no nosso quebra cabeça e muitas vezes só nos damos conta depois que a peça já foi perdida. E não adianta colocar outra peça no lugar, pois cada peça do quebra cabeça tem um encaixe único. Como resultado, a cada adeus ficamos mais incompletos.
Depois de sentir e sofrer vários adeuses, eu finalmente aceitei a despedida como uma constante da vida. Ao mesmo tempo, percebi que o grande desafio é manter aqueles que importam por perto. Esse é o segredo: cuidar daqueles a quem não queremos dar adeus. No entanto, não tem como fugir, algumas pessoas simplesmente vão embora.