“Nada
sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.”
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.”
(Fernando Pessoa)
Vivemos, todos,
atormentados de sentidos. Viver, basicamente, é sentir. Estamos sempre experimentando
as mais variadas e intensas sensações. No entanto, não é fácil lidar com esses
sentimentos; conviver com eles muitas vezes é doloroso, impreciso, confuso. Temos
medo de encará-los, de nos entregarmos a eles.
Por isso, talvez, constantemente
tratamos sentimentos (nossos e alheios) como coisas que podem ser rotuladas, medidas, classificadas e até
comparadas. Tentamos domesticar o que sentimos atribuindo nomes, conceituando.
Falamos de ‘Amor’ como se essa
palavra carregasse em si um significado universal, como se existisse uma
relação necessária e natural entre a palavra e o sentimento.
Esquecemos que sentir é
subjetivo, que cada pessoa vivencia e experimenta os sentimentos de uma maneira
diversa, pessoal. Nossas experiências, nossas cicatrizes, nossos medos, mágoas
e sonhos interferem na maneira que sentimos. Ninguém ama da mesma forma. Não
existe um “modelo de amor universal”
que possa servir de base para classificarmos o que sentimos. Na falta desse
modelo, tendemos a usar o nosso modo de sentir como referência. Procuramos, no
outro, encontrar aproximações, semelhanças que satisfaçam nossa expectativa.
Dizemos um “Eu te amo” na esperança
de ouvir um “Eu também”.
O problema é quando
essas semelhanças não aparecem. Quando o modo de sentir dos outros não
corresponde ao nosso ideal, à nossa “cartilha”. Somos tentados a negar esse
sentimento, a taxá-lo de “Não-Sentimento”.
Daí surge expressões como “falso amor”
que sempre aparece em oposição ao “amor
verdadeiro” que, evidentemente, seria o nosso. Mas, afinal, o que é o amor?
O título desse texto
faz referência a uma música de Lenine¹. Nela, o cantor pernambucano fala dos “sintomas” do que costumamos chamar de
amor. Descreve as supostas sensações de quem está apaixonado. No entanto, em
nenhum trecho da música Lenine atribui um nome a esse sentimento. Não há, na
letra, nenhuma menção direta ao ‘Amor’
ou a ‘Paixão’, ele canta simplesmente
“Aquilo”. Lenine, em um momento de
genialidade, opera uma desnaturalização dos sentimentos. Sem rotular, ele
amplia os significados, as possibilidades. Nessa música, ele nos ensina que
palavras não podem aprisionar sentimentos.
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¹ "Aquilo que dá no coração": http://letras.mus.br/lenine/1685719/
concordo com tudo!só em pensar que eu odiava filosofia,agora estou deslumbrada.amei essa forma que a filosofia tem de se impor diante de uma questão que todos veem de uma forma,"não muito correta"acho que eu odiava,pois os meus prof. não ensinam dessa forma que vc explicou,com os prof. que eu já estudei a filosofia era igual a história e a sociologia,ficava tudo muito igual.
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