Segundo
Nietzsche, "o que faz da felicidade
felicidade é o poder esquecer", em outras palavras, felicidade é
"a capacidade de se instalar no
limiar do instante, esquecendo todos os passados...". Por isso,
talvez, que para a maioria das pessoas a felicidade é representada pela
infância, essa idade onde não existe o peso do passado nem o do futuro, só a
leveza do presente. Nas palavras de Milan Kundera: “as crianças também não têm passado, e é esse todo o mistério da
inocência mágica do seu sorriso”.
Se
Nietzsche estiver certo, ninguém, além das crianças, é plenamente feliz.
Vivemos sob o peso das nossas lembranças e as incertezas quanto ao nosso
futuro. A felicidade nos aparece como lampejos, alguns duram muito, outros nem
tanto. Só ficamos felizes quando experimentamos o ato de esquecer, quando nos
agarramos ao exato instante do agora. Quando sentimos “a-historicamente”.
Entretanto,
nenhum homem (ou pouquíssimos) pode viver
a-historicamente, o passado sempre estará presente e com ele sempre
travaremos lutas. Quando muito, experimentamos um estado muito semelhante à
apatia, mas não podemos tomá-lo como um estado de felicidade. O que nos resta?
Reconhecer que nenhum homem é feliz, que tem apenas momentos de felicidade.
Não
me condene! Não estou sendo pessimista. Reconhecer a raridade da felicidade é
valorizá-la. A grande questão é como
vivemos nossos momentos felizes, com quem os compartilhamos.
Uma
troca de olhares, um sono compartilhado, uma história contada na cama... Quem
sabe um dia, quando o peso do passado estiver nos esmagando, quando nosso corpo
estiver vacilando e estiver prestes a sucumbir, vamos nos lembrar desses
momentos de felicidade... Quem sabe até vamos nos voltar para o passado, olhar
fixamente em seus olhos, e pronunciar talvez nossas últimas palavras: valeu a pena!